segunda-feira, 1 de abril de 2024

UMA LINDA MENTIRA DESMENTINDO A VERDADE

Há muito, muito tempo, quando toda a Humanidade era verdadeiramente humana, não havia mentira. Nem uma mentira. Nesse tempo contava-se pelos dedos os terráqueos na terra. Os humanos viviam as suas reais vidas, viviam o presente sem ilusão, sem maquiagens (os ditos make up's) e seus derivados, sem promessas, sem hipocrisia, sem esperança, e, acreditem, sem Fé. Na verdade, a lista dos "sem" era infinita. E nem sabiam que existia um tempo chamado Futuro. Ninguém tinha Futuro, — e também duvido que neste momento presente, alguém tenha Futuro, embora sempre digam: " o Futuro está nas suas mãos".

    O tempo passou, formou-se comunidades, tribos, etnias e reinos, porém a vida continuou ainda tão monótona, tão parada, tão atemporal que não havía datas nem épocas. Foi então que, por ordem de um ancião, dividiram o Dia, em dia e noite. E o dia também dividiram em manhã e tarde. Está foi a primeira mentira registada na História da Humanidade. Não estando ainda satisfeitos, inventaram um Calendário, e tentaram sem sucesso dividir o infindo Tempo em meses, anos, décadas, séculos, e por aí em diante. Tentaram dividir o Tempo mas ninguém sabe o exacto momento em que não haverá mais Tempo no Multiverso. Engraçado! Pode o finito Homem dimensionar o infinito Tempo, ou Espaço? Ainda assim, há confusão no tamanho das fatias do Tempo que inventou: é que um ano no Planeta Terra, é apenas um dia no Planeta Júpiter. E os próprios anos, então nos tempos remotos, tinham menos de 365 ou 366 dias. E também não imagino, no entanto, o dilema de quem nasceu em 29 de Fevereiro (de um ano bissexto): Qual é o dia de seu Aniversário (num ano comum)? Alguns não ficaram satisfeitos com aquela divisão de tempo, de tal modo que inventaram outros calendários: Chinês, Juliano, Juche, Gregoriano, Judaico, Islâmico, até etíope. 

        Num dado momento, tendo então se inventado o Grande Mito Divino, promoveram reis, feiticeiros, Curandeiros. e Videntes. Uns como representantes dos Deuses, outros como mensageiros divinos, e todo o destino da Humanidade girava em torno deles, os representantes (que actualmente já brincam de Deuses). Foi assim que institucionalizaram o Poder.

        Passados séculos, os poderosos deram liberdade aos governados que também pudessem mentir, mas antes da veiculação da mesma, devia a mentira passar pela aDenálise do Conselho de Anciãos para aprovação e divulgação, foi quando, mais tarde, o povo inventou várias lenda e mitos, só para entreter. Lendas e mitos que alguns deles são tidos como verdade actualmente. A função da mentira para o povo era simplesmente de entretenimento. 

        No entanto, não havendo calejados mentirosos compulsivos, dizia-se, em tempos: "A mentira tem pernas curtas". Mas, verdade seja dita, isso também era uma mentira, pois o Grande Mito já havia feito séculos e séculos caminhando, que transformou-se num Guia (Espiritual), e até hoje continua a Sua jornada milenar. 

        Mas num dado momento, lá nos tempos idos, o rei perdeu controle das mentiras que circulavam pelo reinado sem a sua aprovação, e decidiu punir severamente aos infractores, mas antes tinha que fazer inventário de tais mentiras, e foi quando descobriu que as mesmas já tinham sido registadas pela História, algumas simplismente como verdade, e outras, como verdade absoluta, em até grandes museus e bibliotecas. Eram datas, eram eventos, eram livros (até sagrados), Enciclopédias, grandes obras de arte, feitos a base de mentira, que a verdade sobre isso, se parecia mais com a mentira do que com ela mesma. Era como se a Lua se parecesse mais com o Sol, do que com ela mesma. . . Tudo confuso. Isso mesmo, a mentira gosta de sentar-se por cima da confusão, onde há caos. 

        Quiz o rei castigar os visados mas não foi possível, visto que os mesmos inventaram também a outra mentira para se defenderem das investiduras do rei: havendo então leis injustas, inventaram os direitos. E foi uma lista infinita de direitos. O rei ficou louco: porquê o povo precisava de tantos direitos? Não bastava o direito à vida? Nesse balde de direitos, estava lá a "igualdade" disto e daquilo, que também é uma mentira, olhando para a realidade. E, na defesa dos direitos, criaram o activismo, que não difere tanto com muitos da sua família terminados em "ismo". O activismo veio junto, grudado com instituições de caridade com caras de Anjos, e com a Democracia toda santíssima, como um "meio-termo", que é a mais linda das mentiras. Inventaram a "globalização": um só mundo, um só povo, uma só nação, uma só cultura, mas uns são donos do oxigénio, e outros são apenas mendigos, sempre mendigos. E os donos do mundo "destroem florestas e oceanos porque basta o petróleo para respirarem", de tal forma que traçam a desgraça do nosso destino de "G8 maneiras". Diz a velha máxima, — que também é uma mentira—, que o "Bem sempre vence o Mal". Mas quantas injustiças vivemos e sentimos pela vida? Muitas delas são tão arrepiantes que cauterizam a alma. 

       Uff! São tantas as mentiras criadas, que cansa o pensar. Dizem que o Céu é azul, até parece verdade! Em que hemisfério está o Paraíso ou o Inferno? No Céu? Ou mais Além, em algum outro Planeta? (Estás são perguntas proibidas de fazer). O Paraíso e o Inferno são espaços físicos, ou "psicológicos"? E já agora, são espaços ou tempos? Tendo o Homem recebido ou "conquistado por rebeldia" a Dádiva do Conhecimento pelos Divinos, será ele o único ser inteligentemente pensante já criado? Ou existe um Alienígena no imenso multiverso, zarpando com o seu "Disco Voador"? São tantas perguntas proibidas que o melhor mesmo é ser uma pedra surda, muda, e cega. 

       Estão destruindo irreversivelmente o Planeta Terra, todo verdinho e fresquinho, e agora já mentem que o Marte é habitável. Sério? Já é um Inferno agora, antes de ser povoado, imagine depois de industrializá-lo! Quem transformou o Paraíso da Terra em Inferno, não pode esperar que transforme o Inferno do Marte em Paraíso (. . .) 

        E foi assim que a mentira se espalhou definitivamente e se enraizou pelos "QUATRO CANTOS DO MUNDO". Entretanto, sendo a terra redonda, esta é outra mentira milenar, a não ser que, no mínimo, acreditemos que somos todos terraplanistas. 

        É por estas e outras que somos todos mentirosos, até que se prove o contrário. 



Octaviano Joba 



Hoje, 1º de Abril, dia da Mentira. 

domingo, 21 de janeiro de 2024

POEMA DA CONSTERNAÇÃO

De repente fez-se caco, o que era diamante

Fez-se cacto, o que era flor

Fez-se indiferença, o que era amor

De repente fez-se pálido, o que era brilhante.


De repente fez-se deserto, o que era mar 

Tornou-se inferno, o que paraíso

Tornou-se rugoso o que era liso

De repente fez-se selva, o que era pomar.


De repente fez-se inverno, o que era verão

Fez-se outono, o que era primavera

Fez-se pano, o que era bandeira

De repente fez-se crocodilo, o que era leão.


De repente fez-se calvário, o que era jardim

Fez-se desespero, o que era esperança

Fez-se tempestade, o que era bonança

De repente fez-se tristeza, o que era festim.


De repente fez-se mendigo, quem era patrão

Fez-se promessa do que seria o presente

Fez-se presente está dor insolente

De repente fez-se migalha, o que era pão. 


De repente fez-se Diabo, quem era Santo

Fez-se pagão, quem era Jesus

Fez-se apagão, o que era luz 

De repente tornou-se repulsa, o que era encanto. 


De repente fez-se agitação, do que era a paz

Fez-se paz, do que era agitação

Fez-se o que se faz numa "sã nacão"(...)

De repente tornou-se cinza, o que era lilás.


De repente fez-se pimenta, o que era refresco

Fez-se burlesco, o que era sério 

Fez-se por emoção, o que seria por critério

De repente fez-se pó, o que era gigantesco. 


De repente tornou-se velho, o "Homem-novo"

Tornou-se de um, o que seria comum

Enfim, tornou-se espinho o nosso "atum"

De repente separou-se a clara da gema (do antigo ovo).


Sempre de pedra a pedra, levando pedrada

De sol em sol, nos golpes das mãos em punho ...

Haverá uma luz que brilhe, sim, um outro Junho

Mais pomposo e glorioso que qualquer fada. 


De repente..."não mais que de repente"

"A mão armada" fez-se "a mão amada"

"A mão amada" fez-se "a mão armada"...

Vivemos feito relâmpagos(...) sempre de repente!


Quem olhar dentro de nós e ver algo, assim, eterno, 

Será em sonho, ou numa simples imaginação...

Eu, por exemplo, veterano da reincidente desilusão,

Só acredito em mim sonhando-me sempiterno. 


22-23/10/2021

Octaviano Joba

PORQUÊ?


Por quê me olhas assim tão perturbada

Com esse ar que inspira vilania?

Por quê abraças tão forte a agonia,

Se sorriste,- enquanto chorei-, pela palmada?!


Por quê me deseja, desditosa, o desdém

E quer que eu vá p'ra lá, p'ra o Inferno?

Por quê é que, desse amor que era eterno,

Quer que eu morra, vá p'ra o Quente Além?!


Por quê o ódio, tamanha judiação?

Por quê esse bloco de rancor no seu ventre?

Veja o lado bom da vida...se concentre!

Talvez brilhe p'ra si uma nova paixão...


Por quê andas triste, de tropeço em tropeço,

Rogando a Deus de segundo em segundo?

Por quê destruiste tão cedo o seu mundo

E hoje pagas em prestações o triste preço?


Por quê esse riso adolescente tornado pranto

Escraviza o seu peito de mulher que és?

Vejo um lago de lágrimas em seus pés 

Enquanto ensaio um Salmo, um canto...


Se acaso passo por ti, finges que não me vês 

E eu engulo a seco esse amargo desprezo

Mas, todos os dias, em silêncio, eu rezo

Que um dia descubras as respostas dos "porquês".


Octaviano Joba

POEMA DO DITO PATRÃO ( EM COMBUSTÃO)

Há coisas que não têm explicação 

Por que é que, sendo eu o patrão, 

Vivo de migalhas, de grão em grão, 

Sobrevivo às navalhas no meu coração, 

Vejo mortalhas em toda a direção

Prevejo falhas planificadas com precisão, 

Ando empoeirado, se arrastando pelo chão, 

Pranto empoleirado, bem vazia a minha mão.


Há coisas que não têm explicação: 

Por que é que, sendo eu o patrão,

Sou fruto da frieza e da exploração, 

Produto do abandono de quem jurou paixão, 

Só é certa a incerteza, a morte e o caixão.


Tudo cheira a mofo, a fornalha, a combustão. . . 

O Cabo em chamas, o Centro é Paquistão, 

O futuro é incerto, alegria é só quinhão, 

Desiquilibrio na balança, injustiça na equação, 

Delírio, matança. . . preguiça e desilusão, 

O lírio é criança murchando sem pão!


Há coisas que não tem explicação:

Por que é que, sendo eu o patrão, 

Tenho Liberdade vigiada, que é uma prisão, 

Migalhas mensais a que chamam de pensão, 

. . . promessa adiada, que já virou canção. . . 

Não importa a fome de Joaquim, Jorge ou João, 

Só há pressa na eleição, leilão e usurpação. . . 


Quando digo eu, digo todos: — A população, 

Essa sociedade assassinada, latindo como cão:  

Direitos desfeitos, sem Saúde. . . nem Educação, 

Igrejas autorizadas a vender a Salvação, 

Cervejas geladas, embriaguez, perdição, 

Bondade simulada do multicolor camaleão, 

Verdade assustada. . . silêncio e escuridão. . . 

Hipocrisia na cara do crocodilo chorão. . .

No leão vegetariano não acredito, não! 


Estou nas calmas. . . Calmíssimo, meu irmão, 

Mas não queiras acordar este feio leão, 

Este dragão faminto, para uma Revolução. . . 


Octaviano Joba

NÃO FALTA NADA


Não falta alguém que diga disparate;
Não falta incerteza em nossas vidas;
Não falta alguém que pilhe e mate;
Não falta mendigos pelas avenidas...

Não falta fome rindo à espreita;
Não falta pobres entregues à sua sorte;
Não falta insegurança por nós eleita;
Não falta barcos velejando sem "Norte".

Não falta desespero aos sonhadores;
Não falta medo na luta pela verdade;
Não falta prepotência (dos ditadores);
Não falta, aos revolucionários, uma grade...

Não falta "Profetas" vendendo a salvação;
Não falta promessas, tantos desencantos;
Não falta "pseudo-nacionalistas", frieza e traição;
Não falta "descontentes", mágoas e prantos.

Não falta "fumos no ar"... poeira à vista; 
Não falta pimenta nos olhos dos justos; 
Não falta "camaleões" andando na pista; 
Não falta "reedição da paz"(...) e sustos.

No entanto, é tanta falta, tanta escassez;
Para quem não lhe falta amor à pátria! 

Octaviano Octaviano Joba

LEMBRANÇAS

 Vivemos um Paraíso enquanto nos amamos

E tudo na vida tinha algo de belo e doce

Mas, aos poucos, o Paraíso acabou-se 

E o que seria eterno, num instante, injuriamos.


Se de almas gémeas tornamos rivais

E vemo-nos pela rua como gato e rato,

Quem lembrará e será tão grato

Por esse tempo que vivemos como casais?


Eu guardo comigo grandes lições de vida,

Também guardo comigo grandes momentos...

Faça revisão dos seus antigos sentimentos...

Quem sorria p'ra mim, toda florida?!


Saiba que, enquanto eu viver e tu víveres,

Haverá sempre algo que nos torne semelhantes: 

(não olhe p'ra o lado das coisas humilhantes)

- Lembraremos os mesmos beijos...os mesmos prazeres.


Octaviano Joba

SILÊNCIO E ESCURIDÃO


Ao cego que não pode ver 

A forma das coisas em seu redor;

A beleza doce duma linda flor;

A Geometria divina das coisas naturais

A Natureza florida...praias, rios, mangais;

As paisagens... savanas e prados;

A abundância dos campos lavrados;

A verdade no rosto de quem mente;

A mentira embrulhada num presente...

...ao cego que não pode ver...

Tudo lhe-é treva...espessa escuridão.


Ao surdo que não pode ouvir

O som intenso e estridente dum trovão;

A melodia cativante duma linda canção;

O grito de dor aflita duma mãe que chora;

O choro de um homem que, ajoelhado, implora;

O rugido duma fera furiosa em arrelia;

A promessa expressa, mais linda que poesia...

...ao surdo que não pode ouvir...

Tudo lhe-é silêncio...eterno silêncio.


Quantos de nós, no decorrer dos dias,

De olhos vivos, acesos, e ardentes,

Somos cegos ao amor que nos rodeia?

Quantos de nós, nas nossas utopias,

De ouvidos vivos, abertos e presentes

Somos surdos às vozes em apneia?

― Muitos! Muitos!


Octaviano Joba

LÊ-SE: ESTRESSE

 


O ócio é sócio da preguiça

Preguiça que atiça ou iça

A desgraça saça sem graça...

Traça, não faça fogo ou fumaça

Na nossa praça...! Saciou cachaça?!

Cansamos com caçoada...trapaça!

Cansamos com caçada...mordaça!

Cansamos com "balançada"...murraça!

Cansamos com palhaçada...matança!


Justiça dança que dança na balança

Mas balança não é bonança

E bonança não é criança... mudança: 

A verdade tem dono? Tem?

Ou é de ninguém!


Passa, traça! Passa!

Que não sou papagaio da sua laia...Caia!

Passa, traça! passa!

Que, de medo, aqui, ninguém desmaia...Vaia!


Queriam que eu fosse vigoroso corvo

Venerando o vetusto verdugo venenoso...

Queriam que eu fosse parvo corvo

Bebendo aos sorvos o ovo cheio de gema, 

Porém, já faz tempo que estou ensopado

Empapado pelos "gordos sapos que engoli..."

Embriagado gado babado pelo futuro que nunca vi...

Vai, tosca mosca! Vai! Que eu já me defini: 

Eu sou mais eu(...) e eu nunca me vendi!


Não me peçam paciência

Porque tudo explodiu.

Não me peçam eloquência

Porque alguém me cuspiu...

E esse alguém relaxa: amêijoa na concha (...)

Xis: primeira bolacha última da caixa; 

Enquanto eu, coxeando na roça, 

De coxa roxa na rocha,

Sem feijão nem carvão, 

Sem limão nem pão,

Sem galinha nem farinha, 

Sem papinha nem chiguinha

Sem peixe em cash, 

Sem arroz nem voz, 

Eu, sem cambalacho mortiço, 

Atiço às minhas forças para livrar-me da forca...

Da fome que me consome... e não some!


Porém uma coisa vou dizer, sim

(E sempre pensei nisso):

− Que se lixe o luxo do Chico no lixo!

E, tendo dito assim, 

Espero que quem esteja lixado

(Ou linchado) não seja eu, o bicho!

− Mééé! Mééé! Mééé! (Este sou eu, cabrito chorante).


Mas chorar com chocolate no bucho é chilique chique

E "se pique no olho" quem acha que é chocante

A incessante pérola chamada Moçambique(...)


Octaviano Joba 

POR QUÊ TANTO PRANTO NO CANTO DO OLHO?

Tanto pranto no canto do olho.— Cansaço!

Tanto Desencanto num pranto só

Tanto poço. . . Laço no pescoço. . . Tanto nó

Tanto pó, estilhaço, caco. . . Tanto bagaço.


A gente sente na mente a corrente

Desse estresse que aquece e enlouquece,

Desvanesse e enfraquece a prece 

E o amor que outrora fora vivo e quente.


Gente. . .!!! Porque tanto tédio e ódio no peito?!

Tanto tempo tentando atormentar o outro. . .!

Tanto mostro, tanto rosto tostado, coração frouxo!

Tanto desgosto, tanto rosto tosco com gosto ignoto, 

Com gosto de esgoto nesta triste foto. . . Rosto roto!

Por quê este leito feito de lágrimas! Tudo desfeito!


Está feito, sim. . . P'ra mim, o jardim virou capim

E o que era Pirlim Pim Pim de tintim por tintim

Agora virou festim de piri-piri, siriri (cupim) e rum tão ruim

Roendo o rim. . . Berbequim nas mãos de Caim, 

Enfim, o que era azul, Anjos (Serafim), virou carmim, 

E vejo-me, assim, no princípio do precipício, sim, 

Chorando todo roxo com a cara inchada.— Fim.


Octaviano Joba

Data: 13-18/07/2022


Siriri— [Entomologia] Nome popular em algumas regiões do Brasil dado às formas aladas de cupins, que aparecem em grande quantidade por ocasião da revoada, largando as asas pelo chão. 


Fonte: https://www.google.com/amp/s/www.dicio


nario.info/amp.php%3fnome=siriri

REALIDADE


Sonhei que o mundo era doce. . . Lindo, 

Infindo, —sem princípio nem fim—,

Jardim, flores. . . Pássaros sorrindo,

Bramindo o mar. . . Anjos. . . Serafim. . .


Assim tudo tão lindo, tão perfeito. . .

Um leito de rio a correr de mansinho. . . 

Sozinho sorria alegre o meu peito  

Dum jeito que parecia um Anjinho. . . 


. . . alinho-me nesse sonho. . . Canto. . . 

Tanto quanto o meu doce delírio…

Colírio em mim — Flor. . . Encanto. . . 


Espanto-me quando abro a cortina. . . 

Retina quebrada. . . Murcha o lírio:

Martírio, tiro, fumo e mina. . . 


Octaviano Joba

POESIA D

 Deus no céu e na terra. . . 

Diabo quer é fazer guerra.

Deus coloriu a paisagem. . . 

Diabo fez a aragem.

Deus fez é o verdadeiro amor. . . 

Diabo, a hipocrisia e o rancor.

Deus nos amou, nos ama. . . 

Diabo nos chama pra a chama.

Deus é Pai do Universo…

Diabo. . . —o inverso.

Deus enviou-nos os Anjos. . . 

Diabo fez são "rearranjos".

Deus é Divino, todo Poderoso. . . 

Diabo é espinho desastroso.

Deus fez a linda mãe Eva. . . 

Diabo aliciou-a com as trevas.

Deus é calmo, paciente. . . 

Diabo é um jumento demente.

Deus é a mais bela poesia. . . 

Diabo, a mais feia hipocrisia. 

Deus tem para mim a salvação. . . 

Diabo gosta é lançar-no ao carvão(. . .) 


Agosto de 2018

Octaviano Joba

MEU MUNDO

 Pensando bem, lá bem no fundo

Tu és o meu infindo mundo 

Um mundo lindo sorrindo. . . 

E este amor profundo

Oriundo de mim

É um mar sem fim

Enfim, sinto-me jucundo e fecundo. . . 


Eu sou eu e tu és o meu mundo 

Assim, juntos, 

Como o mundo em Raimundo e Edmundo: 

Enfim, abundas em mim

Tanto quanto abundo em ti. . . 

Resides nos meus pensamentos de segundo em segundo

E eu vivo em ti porque és o meu mundo. . . 


Sou apenas um vagabundo moribundo, 

Imundo, não!

Furibundo, também não!

Sou a luz silenciosa do meu coração

Querendo dizer–te: Paixão!


Aprofundo cada vez mais este amor profundo

Lapido–o. . . Vou mais fundo, 

E sinto-me tão fecundo quanto jucundo. . . 

Jucundo junto de ti, o meu mundo!


Octaviano Joba

24/08/2022

PORTA É PORTA

Porta-moedas

— Não é porta. 

Porta-malas

— Não é porta. 

Porta-luvas

— Não é porta. 

Porta-livros

— Não é porta. 

Porta-lápis

— Não é porta. 

Porta-jóias

— Não é porta. 

Porta-retratos

— Não é porta. 

Porta-voz

— Não é porta.


Porta é sempre porta

E comporta-se como porta.


Octaviano Joba

Agosto de 2018

SE EU FOSSE

—És um passarinho!

Diz a minha mãezinha. 

— És um Anjinho!

Diz a minha avozinha.


Mas se eu fosse um passarinho

Ou Anjinho…

Voaria até à Lua. 


Sou apenas um menininho. . . 

— Coitadinho!

Só sei voar até à rua.


Octaviano Joba


Agosto de 2018

SONHO

 Sempre sonho com um papel 

E uma caneta na mão. . . 

Às vezes, com um pincel

Pintando num papelão. . . 


E faço letras gigantes 

Que parecem ondas do mar. . . 

Os desenhos são tão brilhantes

Que podem iluminar. . .


Octaviano Joba 

Agosto de 2018

A AMIZADE

  O menino parou e sorriu,

A menina olhou e tossiu,

A mãe do primeiro olhou…

E a da segunda saudou…


Assim começou a amizade

De dois meninos no jardim:

O menino chama-se Andrade,

E a menina, Lasmim. 


A mãe do primeiro chama-se Maria

E a da segunda, Jacinta; 

O menino adora escrever poesia, 

A menina. . . Advinhem...! —Pinta.


Octaviano Joba

Agosto de 2018

LIÇÃO II

Chamam-me de louco

Porque rio com os meus poemas

Mas não entendem, nem pouco,

Que resolvo os meus problemas. 


Octaviano Joba

Agosto de 2018

LIÇÃO I

 Não sei o que é verso

Muito menos o que é poema. . . 

Este meu problema 

Tem tamanho do Universo. 


Octaviano Joba 

Agosto de 2018

RETRATO DE UM SONHADOR

Sou o que sempre fui, — eu mesmo.

E para sempre serei único e igual.

Não sou guiado pelo vento, não vivo à esmo. 

Serei igual ao que sou e fui: natural. 


Transformo-me na melhor versão de mim

Passando de geração em geração. . . 

Para tudo há Começo, Meio e Fim;

Também seguirá esta ordem o meu coração. 


Quem disser que sou mau que o diga:

Até Jesus foi entregue pelos seus. . . 

A amizade é uma semente, uma espiga, 

A da parábola que Jesus aprendeu de Deus. 


Valorizo a beleza e simplicidade da Natureza: 

Sou tão igual à qualquer indígena . 

Sobre o futuro, evito ter absoluta certeza 

Como esse que se expressa como alienígena. 


Tento ser humano, e o sou. . . Sou honesto:

Só engano a mim mesmo nas horas vagas. 

Uns dizem que valho, outros, que não presto, 

E é por isso que me lançam pragas.


13/11/2023

Octaviano Joba

HOMENAGEM À UM HERÓI (2) (Poema infinito para Azagaia)

HOMENAGEM À UM HERÓI (2)
(Poema infinito para Azagaia) 

Nunca olvido do ocorrido, vivido e sentido, 
Nem duvido da verdade. . . Não duvido! 
Eu, cuspido pelas "mentiras da verdade"
Nas grades da dura censura sem candura
Eu. . . Que nunca fui ouvido, 
Que, quando ouvido, fui desmentido, 
Cuspido de novo, 
Rido pelos ruidos promovidos. . . 
Convertido em arguido feito um foragido, 
Metido em argolas e gaiolas
Agredido e ferido fisicamente
Transferido para um lugar dolente. . .
Agredido de novo por um zumbido, 
Rugido, zunido, vagido. . . e mugido, 
Já partido e embebido de lágrimas,
Nas lástimas em leves rimas. . . 
Eu. . . serei sendo o mesmo sustenido,
Sustentado pelos meus pensamentos, 
E sentimentos voando pelos ventos. . . 

Eu, vestido de tristeza e incerteza, 
Mas despido de frieza, 
Dividido entre a vida e a morte, 
Sem Norte nem Sul. . . Sem sorte. . . 
Bem batido (remexido), e combatido pelos vermes
Tido como bandido. . . denegrido
Sem ter infligido nenhum artigo, 
Eu, ungido de lamento e castigo, 
Aparentemente Demolido, lânguido. . . de peito dorido,  
Supostamente vencido pelo "mal-agradecido",
Serei sempre sendo eu, livre e destemido. 

Eu que, —mesmo tendo um cupido desmedido
Pela Paz que agora se desfaz e jaz—, 
Fui lido, mas incompreendido; 
Fui ouvido, mas desmentido, 
Serei eu mesmo a própria zagaia ou Azagaia, 
A flecha do cupido que algum coração desmaia. 

Octaviano Joba

"Heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências" 

 William Shakespeare

#azagaiavive #povonopoder #LiberdadedeExpressao  #Justiçasocial  

#Azagaia #Povonopoder

sábado, 30 de julho de 2022

POEMA DO DITO PATRÃO (EM COMBUSTÃO)



Há coisas que não têm explicação:

Porque é que, sendo eu o patrão, 

Vivo de migalhas, de grão em grao, 

Sobrevivo às navalhas no meu coração, 

Vejo mortalhas em toda a direção

Prevejo falhas planificadss com precisão, 

Ando empoeirado, se arrastando pelo chao, 

Pranto empoleirado, bem vazia a minha mão.


Há coisas que não tem explicação: 

Porque é que, sendo eu o patrão,

Sou fruto da frieza e da exploração, 

Produto do abandono que quem jurou paixão, 

Só é certa a incerteza, a morte e o caixão.


Tudo cheira a mofo, a fornalha, a combustão. . . 

O Cabo em chamas, o Centro é Paquistão, 

O futuro é incerto, alegria é só quinhão, 

Desiquilibrio na balança, injustiça na equação, 

Delírio, matança. . . Preguiça e desilusão, 

O lírio é criança murchando sem pão!


Há coisas que não tem explicação:

Porque que é que, sendo eu o patrão, 

Tenho Liberdade vigiada, que é uma prisão, 

Migalhas mensais a que chamam de pensão, 

. . . Promessa adiada, que já virou canção. . . 

Não importa a fome de Joaquim, Jorge ou João, 

Só há pressa na eleição, leilão e usurpação. . . 


Quando digo eu, digo todos: — A população, 

Essa sociedade assassinada, latindo como cão:  

Direitos desfeitos, sem Saúde nem Educação. . . 

Igrejas autorizadas a vender a Salvação, 

Cervejas geladas, embriaguez, perdição, 

Bondade simulada do multicolor camaleão, 

Verdade assustada. . . Silêncio e escuridão. . . 

Hipocrisia na cara do crocodilo chorão. . .

No leão vegetariano não acredito, eu não! 


Estou nas calmas. . . Calmíssimo, meu irmão, 

Mas não queiram acordar este feio leão, 

Este dragão faminto, para uma Revolução. . . 


quarta-feira, 29 de junho de 2022

Lê-se: Estresse


 O ócio é sócio da preguiça

Preguiça que atiça ou iça

A desgraça saça sem graça...

Traça, não faça fogo ou fumaça

Na nossa praça...! Saciou cachaça?!

Cansamos com caçoada...trapaça!

Cansamos com caçada...mordaça!

Cansamos com "balançada"...murraça!

Cansamos com palhaçada...matança!


Justiça dança que dança na balança

Mas balança não é bonança

E bonança não é criança... mudança: 

A verdade tem dono? Tem?

Ou é de ninguém!


Passa, traça! Passa!

Que não sou papagaio da sua laia...Caia!

Passa, traça! passa!

Que, de medo, aqui, ninguém desmaia...Vaia!


Queriam que eu fosse vigoroso corvo

Venerando o vetusto verdugo venenoso...

Queriam que eu fosse parvo corvo

Bebendo aos sorvos o ovo cheio de gema, 

Porém, já faz tempo que estou ensopado

Empapado pelos "gordos sapos que engoli..."

Embriagado gado babado pelo futuro que nunca vi...

Vai, tosca mosca! Vai! Que eu já me defini: 

Eu sou mais eu(...) e eu nunca me vendi!


Não me peçam paciência

Porque tudo explodiu.

Não me peçam eloquência

Porque alguém me cuspiu...

E esse alguém relaxa: amêijoa na concha (...)

Xis: primeira bolacha última da caixa; 

Enquanto eu, coxeando na roça, 

De coxa roxa na rocha,

Sem feijão nem carvão, 

Sem limão nem pão,

Sem galinha nem farinha, 

Sem papinha nem chiguinha

Sem peixe em cash, 

Sem arroz nem voz, 

Eu, sem cambalacho mortiço, 

Atiço às minhas forças para livrar-me da forca...

Da fome que me consome... e não some!


Mas uma coisa vou dizer, sim

(E sempre pensei nisso):

− Que se lixe o luxo do Chico no lixo!

E, tendo dito assim, 

Espero que quem esteja lixado

(Ou linchado) não seja eu, o bicho!

− Mééé! Mééé! Mééé! (Este sou eu, chorando)


Mas chorar com chocolate no bucho é chilique chique

E "se pique no olho" quem acha que é chocante

A incessante pérola chamada Moçambique(...)


Octaviano Joba 

Imagem: Google

SILÊNCIO E ESCURIDÃO


Ao cego que não pode ver 

A forma das coisas em seu redor;

A beleza doce duma linda flor;
A Geometria divina das coisas naturais
A Natureza florida...praias, rios, mangais;
As paisagens... savanas e prados;
A abundância dos campos lavrados;
A verdade no rosto de quem mente;
A mentira embrulhada num presente...
...ao cego que não pode ver...
Tudo lhe-é treva...espessa escuridão.

Ao surdo que não pode ouvir
O som intenso e estridente dum trovão;
A melodia cativante duma linda canção;
O grito de dor aflita duma mãe que chora;
O choro de um homem que, ajoelhado, implora;
O rugido duma fera furiosa em arrelia;
A promessa expressa, mais linda que poesia...
...ao surdo que não pode ouvir...
Tudo lhe-é silêncio...eterno silêncio.

Quantos de nós, no decorrer dos dias,
De olhos vivos, acesos, e ardentes,
Somos cegos ao amor que nos rodeia?
Quantos de nós, nas nossas utopias,
De ouvidos vivos, abertos e presentes
Somos surdos às vozes em apneia?
― Muitos! Muitos!

Octaviano Joba

sexta-feira, 24 de junho de 2022

HOMENAGEM A UM HERÓI (Poema Infinito para Samora Machel)


 HOMENAGEM A UM HERÓI (Poema Infinito para Samora Machel)


Num ambiente campestre, de linda paisagem

De algum rio florido, talvez, à margem

Nasceu um generoso menimo– O personagem– 

Duma linhagem de guerreiros de coragem

Que, vindo do futuro, como uma divina triagem, 

Escalou a pérola, a qual vemo-la no Além, 

Pálida. . . fugindo-nos veloz como trem. . .


Enquanto menino, entre a miudagem, 

Dedicou-se à pastagem e à aprendizagem. . .

Dominou a ciência e a técnica. . . a linguagem. . .

Fez-se homem íntegro, determinado. . . de coragem, 

Trabalhou no hospital(. . . ) na Enfermagem. . .

Gentil–homem, generoso. . . de coragem,

Que,– tendo ingressado nas fileiras–, na triagem, 

Surpreendeu o mundo co'a sua imagem

Tão subtil quanto ao amor. . . a linguagem. . .

Tão destemida quanto a força. . . a mensagem

Que deixou-nos numa inviolável embalagem

E recordamo-la tristemente, sobretudo na miragem,

Nesta falsa aragem onde falta-nos coragem 

Para dizer "Abaixo. . .!":–   Abaixo a sabotagem!

– Abaixo ao igoismo e à clivagem!  

– Abaixo ao tribalismo e à boicotarem!

– Abaixo ao regionalismo e à malandragem! 

– Abaixo ao cabritismo e à inveja que nos aleija!

– Chega aos insensíveis, e aos que agem

Tirando sempre vantagem na estiagem

Enquanto os nossos olhos, como uma barragem, 

Derramam lágrimas na filmagem e reportagem!

– Chega "aos que não se agitam", nem reagem

Quando os sanguessugas sugam o sangue

E a desgraça vai e vem como um bumerangue!

– Chega ao excesso de luxo no lixo. . . Exangue 

é o povo descalço, a pé. . . de bicicleta–mustang

Amaldiçoando um tal de . . . "Pedro–Xang" 

Nesta triste tristeza transformada em tatuagem. . . 

Esta tristeza que temo-la em alta voltagem, 

Está esperança que temo-la em mínima dosagem; 

O amor ao que nos une e edifica, idem; 

A riqueza que devia nos sustentar e alegrar, ibidem. . .


Nasceu. . . assim, no chão da Pátria, como vagem

E de folha em folha fez-se a fresca folhagem. . . 

Cresceu. . . Formou-se

Transformou-se

Tornou-se robusto. . . fez-se a ramagem, 

E, sem paragem, sonhou com uma paisagem

Que fosse para todos na mesma dosagem:

Para todas as gerações. . . até para A da "Viragem" . . .

Sonhou com o respeito, a dignidade; 

Sonhou com o amor, a liberdade; 

Sonhou com a honestidade, a verdade. . . 

E vão nesta carruagem

A integridade, a justiça e a Unidade (. . .)


Porém, voltando p'ra o aconchego. . . pasmem: 

Da inadiável viagem, depois da decolagem, 

Vindo. . . Veio vindo, calma e tranquilamente. . . 

No entanto, num instante, de repente, 

Na planagem da águia metálica. . . da fuselagem,

Ouve-se um baque estranho na aparelhagem:

Caos na pilotagem. . . 

Regressiva contagem. . . 

Derrapagem na aterragem. . . 

E, assim, sem travagem, 

Foi-se o gentil-homem nessa curta-metragem

Que bem queria, o povo, que fosse longa. . . 

E, sem mais delongas, 

Vai nesta singela homenagem

Onde, – depois de uma inconclusiva peritagem–, 

Fica o seu nome, a História, e a mensagem

De ter sido um visionário na sua abordagem. . . 


Hoje ouço o seu silêncio na praça. . . coragem!!!

E, vendo-me aqui, assim, numa nova roupagem

E maquiagem, 

Escrevendo e lendo em sua homenagem

Apetece-lhe acordar e fazer uma reciclagem

Deste nosso "amor à Pátria" que parece picotagem. . .

Esta Pátria que vendemo-la ao preço de. . . bobagem!

Octaviano Joba

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

GRADAÇÃO

Me amou com um amor eterno e brilhante

Me amou apaixonada, num instante

Me amou tanto, de coração− amante!
Me amou em prestações, um pouco distante,
Me amou com beijo de camarão−  picante!
Me amou com olhos de atum congelado...
Que já me senti, num instante, abandonado
Com o coração entristecido, aguado e magoado!
Me amou com tal encanto que ficou comprovado
Que me inscreveu no inferno, mas fui rejeitado!
Me amou à sua maneira:
Como amante, amiga, companheira passageira...
Que não foi necessário que eu levasse a vida inteira
Para compreender que tudo tem fim...torna-se poeira (...)
Me amou...pouco e tanto...com pranto e encanto!
Mas hoje, já não posso ver o seu reboliço,
E ela não pode  ver como sou bonito
Revivendo o seu amor, o da linha primeira (...)

Imagem: Google
Texto: Octaviano Joba




quinta-feira, 9 de abril de 2020

A CARTA
Querida amiga, minha flor
Escrevo-te esta carta na maior dor.

Eu não sabia das surpresas da vida
Que tudo pode acabar num momento
Foi tão breve a sua partida
Que eu fiquei aqui no tormento
Lembrando as flores que plantamos;
A brisa do mar espalhada pela praia;
O verbo amar que juntos conjugamos;
O leve esvoaçar solene da sua saia...
Os seus fulvos cabelos em meu leito;
O doce canto do galo pela madrugada;
...silêncios são segredos do peito...
Puros suspiros, saliva partilhada...
Mas hoje eu sinto o frio da sua ausência
Ainda que, pelo dia, brilhe o sol quente
E esta tristeza me espanca sem clemência
E me deixa cada vez mais triste, doente...
É como se estivesse perdido num caminho;
Abandonado no deserto e sem sorte
E a cada passo sinto na veia um espinho,
Uma dor intermitente anunciando a morte...
Há vezes que eu perco o oxigénio
E vejo esmorrecendo o meu coração:
Amor eterno dura mais que um milénio
E não apaga, nunca, o fogo da paixão...
Vejo-te tão distante, tão longe
E não sei se poderei te alcançar...
Pelas noites medito como um monge
E me ponho, às vezes, a versejar.
Passo os dias consolando a minha dor
Passo os dias procurando ser feliz
E desse consolo eu só penso em ti, amor
A cura que procuro para curar a cicatriz...
E neste monte de tristezas, em resumo
Sinto na alma um inferno...confesso
Que sou um anjo perdido, sem rumo
À espera da sua luz, do seu regresso.

Com os saudosos e melhores cumprimentos
Vão nesta carta minha mágoas e sentimentos.

Receba os beijinhos do poeta que chora
E implora pelo seu perdão nesta hora.