sábado, 30 de julho de 2022

POEMA DO DITO PATRÃO (EM COMBUSTÃO)



Há coisas que não têm explicação:

Porque é que, sendo eu o patrão, 

Vivo de migalhas, de grão em grao, 

Sobrevivo às navalhas no meu coração, 

Vejo mortalhas em toda a direção

Prevejo falhas planificadss com precisão, 

Ando empoeirado, se arrastando pelo chao, 

Pranto empoleirado, bem vazia a minha mão.


Há coisas que não tem explicação: 

Porque é que, sendo eu o patrão,

Sou fruto da frieza e da exploração, 

Produto do abandono que quem jurou paixão, 

Só é certa a incerteza, a morte e o caixão.


Tudo cheira a mofo, a fornalha, a combustão. . . 

O Cabo em chamas, o Centro é Paquistão, 

O futuro é incerto, alegria é só quinhão, 

Desiquilibrio na balança, injustiça na equação, 

Delírio, matança. . . Preguiça e desilusão, 

O lírio é criança murchando sem pão!


Há coisas que não tem explicação:

Porque que é que, sendo eu o patrão, 

Tenho Liberdade vigiada, que é uma prisão, 

Migalhas mensais a que chamam de pensão, 

. . . Promessa adiada, que já virou canção. . . 

Não importa a fome de Joaquim, Jorge ou João, 

Só há pressa na eleição, leilão e usurpação. . . 


Quando digo eu, digo todos: — A população, 

Essa sociedade assassinada, latindo como cão:  

Direitos desfeitos, sem Saúde nem Educação. . . 

Igrejas autorizadas a vender a Salvação, 

Cervejas geladas, embriaguez, perdição, 

Bondade simulada do multicolor camaleão, 

Verdade assustada. . . Silêncio e escuridão. . . 

Hipocrisia na cara do crocodilo chorão. . .

No leão vegetariano não acredito, eu não! 


Estou nas calmas. . . Calmíssimo, meu irmão, 

Mas não queiram acordar este feio leão, 

Este dragão faminto, para uma Revolução. . .