quarta-feira, 29 de junho de 2022

Lê-se: Estresse


 O ócio é sócio da preguiça

Preguiça que atiça ou iça

A desgraça saça sem graça...

Traça, não faça fogo ou fumaça

Na nossa praça...! Saciou cachaça?!

Cansamos com caçoada...trapaça!

Cansamos com caçada...mordaça!

Cansamos com "balançada"...murraça!

Cansamos com palhaçada...matança!


Justiça dança que dança na balança

Mas balança não é bonança

E bonança não é criança... mudança: 

A verdade tem dono? Tem?

Ou é de ninguém!


Passa, traça! Passa!

Que não sou papagaio da sua laia...Caia!

Passa, traça! passa!

Que, de medo, aqui, ninguém desmaia...Vaia!


Queriam que eu fosse vigoroso corvo

Venerando o vetusto verdugo venenoso...

Queriam que eu fosse parvo corvo

Bebendo aos sorvos o ovo cheio de gema, 

Porém, já faz tempo que estou ensopado

Empapado pelos "gordos sapos que engoli..."

Embriagado gado babado pelo futuro que nunca vi...

Vai, tosca mosca! Vai! Que eu já me defini: 

Eu sou mais eu(...) e eu nunca me vendi!


Não me peçam paciência

Porque tudo explodiu.

Não me peçam eloquência

Porque alguém me cuspiu...

E esse alguém relaxa: amêijoa na concha (...)

Xis: primeira bolacha última da caixa; 

Enquanto eu, coxeando na roça, 

De coxa roxa na rocha,

Sem feijão nem carvão, 

Sem limão nem pão,

Sem galinha nem farinha, 

Sem papinha nem chiguinha

Sem peixe em cash, 

Sem arroz nem voz, 

Eu, sem cambalacho mortiço, 

Atiço às minhas forças para livrar-me da forca...

Da fome que me consome... e não some!


Mas uma coisa vou dizer, sim

(E sempre pensei nisso):

− Que se lixe o luxo do Chico no lixo!

E, tendo dito assim, 

Espero que quem esteja lixado

(Ou linchado) não seja eu, o bicho!

− Mééé! Mééé! Mééé! (Este sou eu, chorando)


Mas chorar com chocolate no bucho é chilique chique

E "se pique no olho" quem acha que é chocante

A incessante pérola chamada Moçambique(...)


Octaviano Joba 

Imagem: Google

SILÊNCIO E ESCURIDÃO


Ao cego que não pode ver 

A forma das coisas em seu redor;

A beleza doce duma linda flor;
A Geometria divina das coisas naturais
A Natureza florida...praias, rios, mangais;
As paisagens... savanas e prados;
A abundância dos campos lavrados;
A verdade no rosto de quem mente;
A mentira embrulhada num presente...
...ao cego que não pode ver...
Tudo lhe-é treva...espessa escuridão.

Ao surdo que não pode ouvir
O som intenso e estridente dum trovão;
A melodia cativante duma linda canção;
O grito de dor aflita duma mãe que chora;
O choro de um homem que, ajoelhado, implora;
O rugido duma fera furiosa em arrelia;
A promessa expressa, mais linda que poesia...
...ao surdo que não pode ouvir...
Tudo lhe-é silêncio...eterno silêncio.

Quantos de nós, no decorrer dos dias,
De olhos vivos, acesos, e ardentes,
Somos cegos ao amor que nos rodeia?
Quantos de nós, nas nossas utopias,
De ouvidos vivos, abertos e presentes
Somos surdos às vozes em apneia?
― Muitos! Muitos!

Octaviano Joba

sexta-feira, 24 de junho de 2022

HOMENAGEM A UM HERÓI (Poema Infinito para Samora Machel)


 HOMENAGEM A UM HERÓI (Poema Infinito para Samora Machel)


Num ambiente campestre, de linda paisagem

De algum rio florido, talvez, à margem

Nasceu um generoso menimo– O personagem– 

Duma linhagem de guerreiros de coragem

Que, vindo do futuro, como uma divina triagem, 

Escalou a pérola, a qual vemo-la no Além, 

Pálida. . . fugindo-nos veloz como trem. . .


Enquanto menino, entre a miudagem, 

Dedicou-se à pastagem e à aprendizagem. . .

Dominou a ciência e a técnica. . . a linguagem. . .

Fez-se homem íntegro, determinado. . . de coragem, 

Trabalhou no hospital(. . . ) na Enfermagem. . .

Gentil–homem, generoso. . . de coragem,

Que,– tendo ingressado nas fileiras–, na triagem, 

Surpreendeu o mundo co'a sua imagem

Tão subtil quanto ao amor. . . a linguagem. . .

Tão destemida quanto a força. . . a mensagem

Que deixou-nos numa inviolável embalagem

E recordamo-la tristemente, sobretudo na miragem,

Nesta falsa aragem onde falta-nos coragem 

Para dizer "Abaixo. . .!":–   Abaixo a sabotagem!

– Abaixo ao igoismo e à clivagem!  

– Abaixo ao tribalismo e à boicotarem!

– Abaixo ao regionalismo e à malandragem! 

– Abaixo ao cabritismo e à inveja que nos aleija!

– Chega aos insensíveis, e aos que agem

Tirando sempre vantagem na estiagem

Enquanto os nossos olhos, como uma barragem, 

Derramam lágrimas na filmagem e reportagem!

– Chega "aos que não se agitam", nem reagem

Quando os sanguessugas sugam o sangue

E a desgraça vai e vem como um bumerangue!

– Chega ao excesso de luxo no lixo. . . Exangue 

é o povo descalço, a pé. . . de bicicleta–mustang

Amaldiçoando um tal de . . . "Pedro–Xang" 

Nesta triste tristeza transformada em tatuagem. . . 

Esta tristeza que temo-la em alta voltagem, 

Está esperança que temo-la em mínima dosagem; 

O amor ao que nos une e edifica, idem; 

A riqueza que devia nos sustentar e alegrar, ibidem. . .


Nasceu. . . assim, no chão da Pátria, como vagem

E de folha em folha fez-se a fresca folhagem. . . 

Cresceu. . . Formou-se

Transformou-se

Tornou-se robusto. . . fez-se a ramagem, 

E, sem paragem, sonhou com uma paisagem

Que fosse para todos na mesma dosagem:

Para todas as gerações. . . até para A da "Viragem" . . .

Sonhou com o respeito, a dignidade; 

Sonhou com o amor, a liberdade; 

Sonhou com a honestidade, a verdade. . . 

E vão nesta carruagem

A integridade, a justiça e a Unidade (. . .)


Porém, voltando p'ra o aconchego. . . pasmem: 

Da inadiável viagem, depois da decolagem, 

Vindo. . . Veio vindo, calma e tranquilamente. . . 

No entanto, num instante, de repente, 

Na planagem da águia metálica. . . da fuselagem,

Ouve-se um baque estranho na aparelhagem:

Caos na pilotagem. . . 

Regressiva contagem. . . 

Derrapagem na aterragem. . . 

E, assim, sem travagem, 

Foi-se o gentil-homem nessa curta-metragem

Que bem queria, o povo, que fosse longa. . . 

E, sem mais delongas, 

Vai nesta singela homenagem

Onde, – depois de uma inconclusiva peritagem–, 

Fica o seu nome, a História, e a mensagem

De ter sido um visionário na sua abordagem. . . 


Hoje ouço o seu silêncio na praça. . . coragem!!!

E, vendo-me aqui, assim, numa nova roupagem

E maquiagem, 

Escrevendo e lendo em sua homenagem

Apetece-lhe acordar e fazer uma reciclagem

Deste nosso "amor à Pátria" que parece picotagem. . .

Esta Pátria que vendemo-la ao preço de. . . bobagem!

Octaviano Joba